sábado, 24 de março de 2012

Irradiação de tecidos biológicos garante qualidade e segurança para pacientes

Fonte: Site do IPEN

Em parceria com importantes bancos de tecidos do país, o Centro de Tecnologia das Radiações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares em São Paulo irradia tecidos biológicos utilizados em transplantes e desenvolve pesquisas envolvendo o uso da radiação ionizante. A radiação já se mostrou eficaz para eliminar contaminantes biológicos de várias origens.

Dra. Mônica Mathor
A linha de pesquisa relacionada à irradiação de tecidos humanos é coordenada pela farmacêutica bioquímica Monica Mathor. A doutora em tecnologia nuclear explica que é feita a radioesterilização para instituições como o Banco de Tecidos Músculo-Esquelético do Hospital das Clínicas da UFPR e o Banco de Tecidos Músculo Esquelético do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Os tecidos abrangidos pelo processo podem ser pele, córnea, ossos, tendões e âmnion. Na prática, o maior uso dos tecidos irradiados tem sido na área de odontologia, para ossos que passam pelo processo de liofilização. O material é empregado, por exemplo, em cirurgias odontológicas, para preencher cavidades.

Acondicionamento dos tecidos irradiados
O chefe do banco de tecidos do IOT/HC da FMUSP, Luiz Augusto Ubirajara Santos, explica que a Anvisa está estimulando a produção nacional de tecidos, possibilitando sua rastreabilidade, ou seja, acompanhar a origem do tecido, como ele foi processado e como é armazenado. “E a irradiação chega como uma boa medida de segurança”, afirma. Ele destaca ainda que uma aplicação importante é a irradiação de ossos a serem transplantados em pacientes com o sistema imunológico comprometido. O banco mantém diversas linhas de pesquisa, tanto na parte de transplantes ortopédicos quanto odontológicos.

O Banco do Tecidos do Instituto Central do Hospital das Clínicas, parceiro pioneiro no trabalho em conjunto com o instituto (no ano de 2000), está apenas aguardando credenciamento para ser reinaugurado. "Além de pele, o banco também vai armazenar membrana amniótica", destaca seu responsável, André Oliveira Paggiaro, que desenvolveu uma pesquisa de doutorado no Ipen. No estudo, Paggiaro cultivou células epiteliais sobre membranas amnióticas irradiadas e não irradiadas para verificar o efeito da irradiação sobre o crescimento celular. A dose de 25 quiloGray foi considerada muito alta para o cultivo celular. Outro estudo em curso procura identificar a dose ideal. Para uso exclusivo das membranas, a irradiação já se mostrou eficaz.

Em se tratando de peles ou ossos, a captação é feita de pacientes falecidos que se tornam doadores. “Como as campanhas são vinculadas aos tecidos, as famílias acabam tendo muitas dúvidas”, explica Paggiaro. Mas a pele é retirada em regiões imperceptíveis e os ossos têm implantado em seu lugar uma prótese. Há um cuidado em deixar o doador em condições semelhantes às de um doador de fígado ou rim.

Existem uma série de condições necessárias para a doação de membrana amniótica, captada de parturientes de cesariana. A membrana doada pode servir como um substituto cutâneo temporário, para o tratamento de queimados e ainda como substituto para a córnea humana. A doação do tecido, acredita-se, deverá encontrar melhor aceitação. No início desse trabalho, será preciso estabelecer protocolos. Mesmo a legislação ainda precisa ser criada. Paggiaro lembra que “no mundo se utiliza muito mais irradiação para tecidos. Infelizmente estamos um passo atrás”.

Mathor explica que o Ipen pode dar todo o suporte para os bancos de tecido do país e para as plantas de irradiação, instalações comerciais capazes de realizar o serviço. “É preciso investir em treinamento e capacitação”, conclui.

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