segunda-feira, 30 de abril de 2012

Roda Viva com José Goldemberg

No programa Roda Viva com o Dr. José Goldemberg, que foi ao ar na TV Cultura em 09/04/2012, são discutidos diversos assuntos relacionados à energia no Brasil e aos impactos disso no meio ambiente, tema que ganha novo fôlego às vésperas da Conferência Rio +20, marcada para Junho desse ano.

Embora a energia nuclear não seja o foco dessa discussão, outros aspectos da política energética brasileira, como as fontes fósseis com o petróleo do pré-Sal, as hidroelétricas com a Usina de Belo Monte, a energia eólica e a biomassa, entre outras, também são importantes no debate da energia nuclear no Brasil.

José Goldemberg é físico e possui doutorado em física nuclear pela Universidade de São Paulo (USP). É membro da Academia Brasileira de Ciências e já foi reitor da USP (1986 - 1990). No governo federal, foi secretário da Ciência e Tecnologia (1990 - 1991), ministro da Educação (1991 - 1992) e secretário do Meio Ambiente (março a julho de 1992), durante o governo de Fernando Collor de Mello. No estado de São Paulo, foi secretário do Meio Ambiente de 2002 a 2006. Dentre os prêmios recebidos, destaca-se o Prêmio Planeta Azul (2008) considerado um dos maiores da área do meio ambiente. Na mídia, Goldemberg frequentemente aparece defendendo a energia eólica e a biomassa e se opondo à construção de novas usinas nucleares no Brasil.

Confira o Roda Viva com o Dr. José Goldemberg.




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domingo, 22 de abril de 2012

O cinema pós-traumático do Japão


DENNIS LIM, do "NEW YORK TIMES". Tradução de PAULO MIGLIACCI.



Presume-se há muito que os cineastas devem caminhar com cuidado ao filmar sobre uma tragédia. Quer se trate de uma guerra ou genocídio, ataque terrorista ou desastre natural, a importância de registrar um testemunho entra em choque com o perigo de trivializar ou explorar a calamidade.

Foto de 12 de fevereiro deste ano, destruíção pelo tsunami.
 Nos anais do cinema-catástrofe, o triplo desastre japonês provou ser um caso incomumente acelerado. Meses depois do poderoso tsunami e terremoto que mataram milhares de pessoas e causaram derretimento de reatores na usina nuclear Fukushima Daiichi, já surgiram filmes sobre o assunto em número suficiente para constituir um subgênero.

O Festival de Cinema de Berlim, em Fevereiro, exibiu três documentários sobre o desastre e suas consequências, lidando coletivamente com tópicos como as complicações do esforço de limpeza, o sofrimento das pessoas evacuadas e o movimento de oposição à energia nuclear, que ganhou nova energia.

A Japan Society, de Nova York, marcou a passagem do primeiro aniversário da calamidade com exibições de filmes como "The Tsunami and the Cherry Blossom", um documentário de curta metragem indicado ao Oscar e dirigido por Lucy Walker, e "Pray for Japan", que o diretor Stu Levy rodou enquanto trabalhava como voluntário nas operações de resgate em Tohoku, uma das regiões devastadas pelo desastre.

A lista de documentários é longa e está crescendo. A crise de Fukushima foi tema de uma edição recente do programa norte-americano "Frontline", e a rede de televisão japonesa NHK exibiu um programa por dia sobre o assunto na semana que antecedeu o 11 de março.

Mas essa nova onda de cinema pós-traumático também inclui diversos trabalhos de ficção, entre os quais "Women on the Edge", filme de Masashiro Kobayashi que mostra três irmãs distanciadas que voltam a se unir em meio aos destroços de sua aldeia natal, e "Himizu", adaptação de um mangá sobre adolescentes perturbados que o diretor Sion Siono reescreveu rapidamente a fim de incorporar a devastação concreta da região como pano de fundo.

A primeira tentativa de montar um panorama sobre a visão do cinema quanto ao 11 de março aconteceu em outubro de 2011, no Festival Internacional de Documentários de Yamagata, cidade que fica do lado oposto da cordilheira que se ergue sobre a região de Fukushima. Ao perceber o grande número de trabalhos inscritos que tinham temas relacionados ao desastre, Asako Fujioka, a diretora do escritório do festival em Tóquio, diz que ela e seus colegas decidiram exibir tudo que lhes fosse apresentado.

PECADO

A ideia, informou Fujioka em mensagem de e-mail, era "eliminar a curadoria" e em lugar disso apresentar um "arquivo visual improvisado". O festival de Yamagata exibiu 29 filmes sobre o terremoto e suas consequências, como parte de um programa chamado "Cinema Conosco". Alguns dos trabalhos adotavam abordagens oblíquas, como o projeto colaborativo iniciado pela cineasta Naomi Kawase, que incluía colaborações de realizadores famosos, a exemplo do tailandês Apichatpong Weerasethakul e do chinês Jia Zhangke, sobre o conceito de lar, mas a maioria consistia de imagens rodadas nas áreas mais atingidas.

O grande volume de respostas, e a velocidade com que os cineastas reagiram, podem ser efeito de diversos fatores: a conveniência da tecnologia digital de filmagem, a velocidade do ciclo permanente de notícias, a escala da catástrofe (que matou milhares de pessoas e deixou muito mais desabrigados) e a percepção de que era necessário contestar as posições do governo e as reportagens dos grandes veículos de imprensa (que foram alvo de análise e críticas rigorosas).

Há quem sugira impulsos mais profundos: "Tornou-se quase uma obrigação fazer alguma coisa sobre o terremoto, ao ponto de que filmar sobre alguma outra coisa era visto como uma espécie de pecado", diz Toshi Fujiwara, cujo filme "No Man's Zone", sobre as cidades abandonadas na região de Fukushima, foi exibido em Berlim.

Soldados da Defesa Civil japonesa resgatam moradores ilhados após o terremoto em Fukushima, no Japão.

Chris Fujiwara, diretor artístico do Festival de Cinema de Edimburgo e ex-professor da Universidade de Tóquio, apontou que muitos dos filmes "mencionam explicitamente ou aludem a um contexto muito amplo e rico para compreender o que o desastre revelou sobre a sociedade japonesa".

"No Man's Zone" é um filme-ensaio, que considera de uma perspectiva filosófica o que significa filmar algo invisível: as moléculas radiativas que podem tornar a região inabitável por décadas, e pôr fim ao modo de vida agrícola que já estava desaparecendo e agora pode ser extinto.

Atsushi Funahashi, com "Nuclear Nation", também exibido em Berlim, retrata as vidas cotidianas dos refugiados nucleares que foram forçados a abandonar a cidade de Futaba e o arrependimento do prefeito, agora desprovido de cidade para governar, que fala com franqueza da dependência fáustica de seu governo quanto ao dinheiro do setor nuclear.

URGÊNCIA E DEVER

Os filmes inspiraram debate não apenas sobre questões mas sobre os métodos dos cineastas. Alguns dos documentários exibidos em Yamagata resultaram em discussões vigorosas, de acordo com Fujioka, que acrescentou que os filmes "muitas vezes revelam a intranquilidade do cineasta, apanhado entre duas emoções: a urgência e o dever de registrar a realidade e o sentimento de culpa pela intrusão e por possivelmente tirar vantagem da tragédia que se abateu sobre as vítimas".
Muitas das questões éticas quanto a documentar o desastre giram em torno da dificuldade de conciliar as perspectivas de quem vê de fora e as experiências das pessoas diretamente afetadas. No caso dos filmes sobre o 11 de março, essas preocupações podem ser "coloridas pelas ideias japonesas quanto a decência e vergonha", disse Chris Fujiwara, que não é parente do cineasta Toshi Fujiwara.

Em "311", um dos mais controversos entre os filmes exibidos em Yamagata, quatro cineastas de Tóquio registram sua jornada à região de Fukushima. O que começa como uma "road trip" complicada e de humor negro, com as câmeras registrando contadores Geiger, se torna ainda mais incômodo quando eles entrevistam os moradores desorientados, acompanham a retirada de corpos e recebem, mais de uma vez, ordens de parar de filmar.

O conflito entre os moradores locais e os intrujões da cidade grande espelha uma dinâmica subjacente à crise em Fukushima: a usina destruída era operada pela Tokyo Electric Power Company e gerava energia consumida em Tóquio, a 150 quilômetros de distância.

Ética e estética se entrelaçam de modo especial nesses filmes, o que traz à memória o famoso pronunciamento de Jean-Luc Godard: "Travellings são uma questão de moralidade". Como no caso dos filmes sobre o furacão Katrina, muitos desses trabalhos mostram destroços e ruínas, tipicamente em longas tomadas filmadas de um veículo em movimento. Esse motivo visual captura a magnitude da devastação mas também transforma o desastre em turismo.

Entre os filmes mais sutis sobre Fukushima, "No Man's Land" talvez também seja aquele que revela mais consciência sobre os problemas do subgenêro. Fujiwara opera basicamente com uma câmera montada em tripé que registra demoradamente a beleza intrínseca das paisagens; a narração em off questiona nossa atração mórbida pelas imagens de destruição e menciona a relutância do cinegrafista quanto a caminhar pelas ruínas.

Alguns outros cineastas também buscaram um tom contemplativo, Jon Jost, veterano cineasta independente norte-americano (autor de "Sure Fire"), participou do Festival de Yamagata no ano passado e visitou as regiões devastadas. Agora, está concluindo um filme que rodou em uma ilha próxima do epicentro do abalo.

Intitulado "The Narcissus Flowers of Katsura-shima", o trabalho incorpora imagens de paisagens e poesia japonesa tradicional. A resposta não convencional do cineasta experimental Takashi Makino a Fukushima é um curta chamado "Generator", que vê Tóquio como organismo em desintegração por meio de imagens abstratas e pulsantes.

SABER O QUE FILMAR

O programa "Cinema Conosco" do Festival de Yamagata percorreu o Japão nos últimos meses. Fujioka diz que alguns espectadores, especialmente nas regiões devastadas, se comoveram, mas em outras regiões ela percebeu certa falta de interesse. "As pessoas, especialmente os jovens, querem ir adiante, agora que não estão em perigo", disse. "Há alguma fadiga de desastre".

Mas não parece que o número de filmes diminuirá. Alguns dos cineastas que já trabalharam com o 11 de março, entre os quais Funahashi e Fujiwara, preparam continuações. Fujiwara também diz que continua determinado a investigar outros aspectos da área de Fukushima, entre os quais sua história arqueológica, mas não sabe se o debate público causado pelo desastre seguirá adiante.

"Continuamos a evitar o debate", diz, acrescentando que boa parte do diálogo gira em torno da "fetichização do desastre". Em sua opinião, o maior crime para um cineasta é tratar do tema sem ponto de vista claro.

Dada a gravidade da situação, diz, já não basta simplesmente refletir o persistente sentimento de confusão. "Essas pessoas perderam parentes, perderam casas, perderam todo um estilo de vida. Se você não sabe o que filmar, não filme. Deixe-as em paz".


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domingo, 15 de abril de 2012

Radio Bikini e os soldados atômicos

Entre 1946 e 1962, os Estados Unidos conduziram diversos testes de bombas atômicas nos quais milhares de militares foram expostos à radiação. Tais testes começaram na pequena ilha de Bikini (no oceano Pacífico) e, depois de 1951, grande parte foi conduzida no sítio de testes de Nevada.

Segundo a Agência de Defesa Nuclear, cerca de 225 mil militares - os soldados atômicos - estiveram envolvidos nestes testes depois da Segunda Guerra Mundial. Isso porque se queria determinar se, em uma guerra nuclear, as tropas poderiam sobreviver à radiação, fosse após uma exposição de cinco minutos ou de cinco dias!

Nas décadas de 1940 e 1950 era impossível determinar uma relação causal entre uma exposição à radiação e o desenvolvimento de um câncer específico. Sabia-se apenas, como resultado do Projeto Manhattan (devido a acidentes como o Demon Core), que altas doses de radiação levaria uma pessoa à morte em poucos dias. Caber ressaltar que mesmo hoje é difícil estabelecer uma relação causal entre baixas doses de radiação e câncer.

Os documentos sobre os testes de armas nucleares e os soldados atômicos foram classificados como secretos e ficaram sob a posse do governo norte-americano até a década de 1970, quando o Ato de Privacidade de 1974 (Privacy Act) complementou o Ato de Liberdade de Informação de 1966 (Freedom of Information Act), e tornou tais documentos acessíveis ao público.

E foi usando informações desclassificadas pelos Atos citados que o produtor e diretor Robert Stone fez o documentário Radio Bikini em 1987. Indicado para o Oscar em 1988 e vencedor do San Francisco Film Festival's Golden Gate Award, esse documentário relata os primeiros dois testes de armas nucleares após a Segunda Guerra Mundial usando imagens da época feitas pela Marinha americana no atol de Bikini.


Dados técnicos:


Título: Radio Bikini

Duração: 56 minutos

Direção: Robert Stone

Ano: 1987

País: Reino Unido, Estados Unidos

Gênero: Documentário



Confira abaixo o documentário com legenda em português:





Diversos testes foram realizados no Atol de Bikini. A mais destrutiva foi a bomba Bravo, lançada em 1954 sobre o banco de coral que cerca o atol, que pulverizou três ilhas e abriu na lagoa uma cratera de 1,5 quilômetro de largura e 120 metros de profundidade (veja a foto de satélite abaixo).



Devido à alta radioatividade liberada pelas bombas, o atol teve que permanecer isolado por meio século. Em 1997, um relatório da Agência Nacional de Energia Atômica examinou os níveis de radioatividade no local e concluiu que ainda não seria possível reabitar a ilha de Bikini, pois o solo está contaminado com Césio-137 que poderia passar para a comida que, quando ingerida, poderia resultar em doses anuais efetivas nos habitantes locais maiores que os limites recomendados pela Agência.

Em 2010, o Atol de Bikini foi considerado pela UNESCO Patrimônio da Humanidade. Nesse mesmo ano, após seis relatórios de diferentes instituições declararam o atol livre de radiação em níveis perigosos para o ser humano (embora ainda não seja possível a reabitação do local), o atol foi reaberto oficialmente ao turismo, sendo o mergulho a principal atração (uma viagem de 13 dias custa cerca de 5.000 dólares).

A fauna marinha, intocada durante quase quarenta anos, cresceu e se diversificou, fazendo de Bikini um dos santuários ecológicos mais ricos do mundo. Além disso, no fundo da lagoa há um cemitério de navios de guerra completos, com armas, munição, bombas ainda ativadas, xícaras de café e lâmpadas intatas. 

Imagem do Atol de Bikini. Fonte: National Geographic.

Em 1996, o brasileiro Lawrence Wahba tornou-se o primeiro a receber autorização para filmar em suas águas azul-turquesa. Em 2006, ele retornou às ilhas para conferir as mudanças desde sua primeira passagem por lá. O resultado é o documentário De Volta a Bikini, exibido no canal National Geographic em 2008. Suas imagens dão testemunho da capacidade de regeneração da natureza. Algumas fotos e a entrevista de Lawrence Wahba podem ser conferidas no site da NatGeo.

Referência na cultura popular: Você sabia que o Bob Esponja, personagem de um desenho animado da Nickelodeon, vive numa cidade chamada Fenda do Biquíni que supostamente fica debaixo do Atol de Bikini? Num dos episódios (Dying for a Pie), uma bomba disfarçada de torta explode violentamente. Na ocasião, é mostrada cena de teste da bomba-H em Bikini.


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Para saber mais

O atol de Bikini - Arquivos de um Repórter


Conditions at Bikini Atoll. Relatório da AIEA.

De volta a Bikini - Fotos - National Geographic

James Flynn, Nuclear Stigma em The Social Amplification of the Risk.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Brasil completa 30 anos de uso da energia nuclear com avanços tecnológicos e críticas

Fonte: Agência Brasil (01/04/2012 - 10h55)

Brasília – O Brasil chega aos 30 anos de uso da energia nuclear com recorde de produção de 15,644 milhões de megawatts-hora (MWh), registrado no ano passado, e a possibilidade de, com a conclusão de Angra 3, em 2016, ter 60% do consumo de energia elétrica do estado do Rio de Janeiro abastecidos pela fonte nuclear. Hoje, as duas usinas nucleares em funcionamento no país, Angra 1 e Angra 2, geram o equivalente a 30% do que é consumido no estado.

Na avaliação do presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, o uso da fonte nuclear para geração de energia trouxe ao país maturidade tecnológica na área, abrindo o campo de trabalho e colaborando para a formação de engenheiros nucleares de padrão internacional. “A principal vantagem que tivemos foi o aprendizado”, avaliou.

Para Othon Pinheiro, hoje, não se pode prescindir da fonte nuclear de energia que, na sua opinião, não pode ser descartada da matriz energética nacional. “É muito importante na geração de eletricidade, porque nós temos, hoje, no Brasil, 80% da população vivendo nas cidades. A sustentabilidade das cidades passa pela energia elétrica, da forma mais econômica e racional possível”.

Ele, inclusive, refuta o posicionamento de ambientalistas, que fazem oposição ao uso da energia nuclear, defendendo que, “se tratada de forma adequada, é uma fonte de energia limpa e não deve ser descartada da matriz energética nacional”.

Othon Pinheiro lembrou da característica estratégica da energia nuclear, por ser opção em caso de problemas na oferta de energia elétrica devido a questões climáticas, já que a matriz energética é majoritariamente hidrelétrica. “Precisamos da [fonte de energia] eólica, da solar. Seria bom se elas trabalhassem sozinhas. Mas a gente precisa das térmicas, para acionar em caso de problema da natureza. Energia é como ação [da Bolsa de Valores]. Por melhor que seja, a gente tem que comprar uma cesta de papéis para garantia do investimento”. Para o presidente da Eletronuclear, o país não pode descartar nenhuma fonte de energia renovável.

Ele defende a geração de energia nuclear por considerá-la de baixo impacto ambiental e por questões de custo. Pinheiro ressalta que, dentre as térmicas, como as que produzem energia a partir do carvão, óleo combustível ou gás, a usina nuclear é a que tem menos custo. Além disso, ele lembra que o Brasil tem uma grande reserva de urânio, sendo “falta de imaginação” não aproveitar esse potencial.

Construção do prédio do reator de Angra 1 em meados da década de 1970.
Fonte: Site da Eletronuclear.

Angra 1, a primeira usina nuclear a entrar em funcionamento no país, foi interligada ao sistema elétrico nacional no dia 1º de abril de 1982. E, mesmo contestando a real necessidade do Brasil lançar mão dessa fonte de energia tão controversa, o físico Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras, acredita que a geração de energia nuclear constitui um fato histórico. “A gente não pode se arrepender da história. Ela é como é”, disse Pinguelli à Agência Brasil.

Diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Pinguelli, no entanto, enfatiza que geração de energia a partir da fonte nuclear não pode ser vista como imprescindível para o país. Para ele, a energia produzida pelas usinas Angra 1 e 2 poderia ser compensada por outras fontes de energia renováveis. “Por hidrelétricas mesmo. Até agora, não haveria problema”.

Ele relembra o acordo nuclear bilateral, firmado entre o Brasil e a Alemanha, em 1975, que previa a construção de oito reatores, definindo que nem tudo correu bem em relação à energia nuclear no Brasil. “Acho que o acordo com a Alemanha foi malsucedido do ponto de vista brasileiro”. Os custos elevados e as seguidas crises econômicas fizeram, no entanto, com que apenas duas usinas fossem construídas no país até agora.

Pinguelli, por outro lado, concorda com Othon Pinheiro sobre o ganho tecnológico que a geração nuclear propiciou ao Brasil, embora a um custo muito elevado. “Criou-se uma competência na engenharia nuclear. Os dois reatores que o Brasil tem funcionando têm boa performance técnica”. O físico destacou, ainda, como avanço tecnológico o aprendizado relativo ao enriquecimento do urânio. “Acho que esse é o ponto, tecnologicamente, mais elevado, promovido pela Marinha de Guerra”.


Para saber mais

Angra 1 completa 30 anos olhando para o futuro - Site da Eletronuclear

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