sábado, 19 de maio de 2012

Um novo olhar sobre a exposição à radiação

Estudo do MIT sugere que, a baixas taxas de dose, a radiação apresenta pouco risco ao DNA. 
Por Anne Trafton, do MIT News Office
Tradução de Pamela Piovezan

Um novo estudo de cientistas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) sugere que as diretrizes que os governos usam para determinar quando evacuar as pessoas na sequência de um acidente nuclear podem ser muito conservadoras.
 
O estudo, liderado por Bevin Engelward e Jacquelyn
Yanch e publicado na revista Environmental Health Perspectives , descobriu que quando ratos foram expostos a doses de radiação cerca de 400 vezes maiores do que a dos níveis de fundo (background) por cinco semanas, nenhum dano de DNA pôde ser detectado.

A regulamentação atual dos Estados Unidos exige que os moradores de qualquer área que atinja níveis de radiação oito vezes maiores que a do fundo devem evacuar o local. No entanto, o custo financeiro e emocional de tal deslocamento pode não valer a pena, dizem os pesquisadores.
 
"Não existem dados que digam que esse é um nível perigoso", diz Yanch, professora sênior do departamento de Engenharia Nuclear do MIT. "Este estudo mostra que você pode ir a níveis até 400 vezes superiores aos níveis médios de fundo e ainda não detectar danos genéticos. Isso potencialmente teria um grande impacto em dezenas, se não centenas, de milhares de pessoas nas proximidades de uma usina nuclear após um acidente ou da detonação de uma bomba nuclear, se descobrirmos exatamente quando deveríamos evacuar e quando não há problema em ficar onde estamos."

Até agora, muito poucos estudos mediram os efeitos de baixas doses de radiação em períodos de tempo longos. Este estudo é o primeiro a medir o dano genético em um nível de radiação tão baixo quanto 400 vezes a de fundo (0,0002 centiGray por minuto, ou 105 cGy em um ano).
 
"Quase todos os estudos de radiação são feitos com uma exposição rápida à radiação. Isso causa um resultado totalmente diferente do ponto de vista biológico em comparação às exposições de longo prazo", diz Engelward, professora associada de Engenharia Biológica do MIT.

Quanto é demais?

A radiação de fundo origina-se da radiação cósmica de isótopos naturalmente radioativos presentes no meio ambiente. Estas fontes somam até cerca de 0,3 cGy por ano, por pessoa, em média.

"A exposição a baixas taxas de dose de radiação é natural e algumas pessoas podem até dizer que é essencial para a vida. A questão é: quão alta uma taxa de dose precisa ser antes que nós precisemos nos preocupar com seus efeitos nocivos sobre a nossa saúde?" diz Yanch.

Estudos anteriores demonstraram que um nível de radiação de 10,5 cGy, a dose total utilizada no presente estudo, produz danos no DNA quando recebida de uma só vez. No entanto, para este estudo, os investigadores distribuíram a dose ao longo de cinco semanas, utilizando iodo radioativo como fonte. A radiação emitida pelo iodo radioativo é semelhante a que é emitida pelo reator de  Fukushima danificado no Japão.

No final das cinco semanas, os investigadores testaram vários tipos de danos no DNA do ratos, utilizando as técnicas mais sensíveis disponíveis. Esses tipos de danos dividem-se em duas classes principais: as lesões de base, em que a estrutura da base de DNA (nucleotídeos) é alterada, e as quebras na cadeia de DNA. Eles não encontraram aumentos significativos em nenhum tipo de dano.

Danos no DNA ocorrem espontaneamente, mesmo a níveis de radiação de fundo,  a uma taxa conservadora de cerca de 10.000 mudanças por célula por dia. A maioria dos danos é consertada por sistemas de reparação do DNA no interior de cada célula. Os investigadores estimam que a quantidade de radiação utilizada neste estudo produz uma dúzia de lesões adicionais por célula por dia, todas as quais parecem ter sido reparadas.
 

Embora o estudo tenha terminado depois de cinco semanas, Engelward acredita que os resultados seriam os mesmos para exposições mais longas. "Minha opinião sobre isso é que essa quantidade de radiação não está criando muitas lesões e você já tem bons sistemas de reparação de DNA. Meu palpite é que você provavelmente poderia deixar os ratos lá indefinidamente e o dano não seria significativo", diz ela.
 
Doug Boreham, um professor de Física Médica e Ciências Aplicadas da Radiação da Universidade McMaster, diz que o estudo adiciona-se à evidência crescente de que baixas doses de radiação não são tão prejudiciais quanto as pessoas muitas vezes temem.
 
"Hoje, acredita-se que toda a radiação é ruim para o ser humano, e toda vez que uma pessoa recebe um pouco de radiação, o seu o risco de câncer aumenta", diz Boreham, que não estava envolvido neste estudo. "Há agora evidências de que esse não é o caso." 

Estimativas conservadoras
 
A maioria dos estudos de radiação em que as orientações de evacuação foram baseadas foram originalmente feitos para estabelecer níveis seguros de radiação no local de trabalho, diz Yanch, o que significa que eles são muito conservadores. No caso dos trabalhadores, isso faz sentido porque o empregador pode pagar para a proteção dos seus empregados de uma só vez, o que reduz o custo, diz ela.

No entanto, "quando você tem um ambiente contaminado, então a fonte não é mais controlada, e cada cidadão tem de pagar para evitar a sua própria dose", diz Yanch. "Eles têm que deixar sua casa ou sua comunidade, talvez até para sempre. Eles muitas vezes perdem seus empregos, como você viu em Fukushima. É aí que você realmente deve se perguntar o quão conservadora sua análise do efeito da radiação deve ser. Em vez de ser conservadora, faz mais sentido olhar para uma melhor estimativa do quão perigosa a radiação é realmente."

Essas estimativas conservadoras se baseiam na exposição aguda à radiação, e, em seguida, extrapolam o que poderia acontecer em doses e taxas de doses mais baixas, diz Engelward. "Basicamente, você está usando um conjunto de dados coletados a partir de uma exposição aguda a alta dose para fazer previsões sobre o que está acontecendo em doses muito baixas durante um longo período de tempo, e você realmente não tem quaisquer dados diretos. É adivinhação ", diz ela. "As pessoas discutem constantemente sobre como prever o que está acontecendo em doses e taxas de doses mais baixas".

No entanto, as pesquisadoras dizem que mais estudos são necessários antes que as orientações de evacuação possam ser revistas.

"Claramente, estes estudos tiveram que ser feito em animais ao invés de pessoas, mas muitos estudos mostram que ratos e humanos compartilham respostas semelhantes à radiação. Este trabalho, portanto, fornece um quadro para a investigação adicional e avaliação cuidadosa das nossas diretrizes atuais", diz Engelward

"É interessante que, apesar da evacuação de cerca de 100.000 habitantes, o governo japonês foi criticado por não impor evacuações para mais pessoas. A partir dos nossos estudos, preveríamos que a população que não foi evacuada não mostraria danos em excesso no DNA - isso é algo que pode ser testado usando as tecnologias recentemente desenvolvidos em nosso laboratório", acrescenta ela.

O primeiro autor deste estudo é o ex-pós-doutorando do MIT Werner Olipitz, e o trabalho foi feito em colaboração com
Leona Samson e Peter Dedon do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Engenharia. Estes estudos foram apoiados pelo Departamento de Energia (DOE) e pelo Centro de Ciências de Saúde Ambiental do MIT.


Para saber mais

Artigo científico da pesquisa: Integrated Molecular Analysis Indicates Undetectable DNA Damage in Mice after Continuous Irradiation at ~400-fold Natural Background Radiation -

Radiações Ionizantes e a Vida - Apostila da CNEN 


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